Cracolância: MP diz que ação policial foi inútil

O Ministério Público de São Paulo (MP-SP) instaurou ontem (31) um novo inquérito civil para individualizar a apuração das responsabilidades pela operação policial na região da Cracolândia, local como ficou conhecido o entorno da Estação da Luz, na região central da capital paulista. Para o MP, a operação, conduzida principalmente pela Polícia Militar, mostrou-se inútil.


CracolândiaReinaldo Marques/Terra
Ação policial na Cracolância: inútil, diz o MP



























  “Uma visita de volta à  Cracolândia mostrará que o quadro, infelizmente, é o mesmo do que era antes do começo deste ano. Sexta-feira [27] à noite, pessoalmente, tive essa experiência. Vê-se na Cracolândia a mesma situação que havia antes de janeiro deste ano, o que mostra que todo esse esforço mostra recursos mal-empregados e de uma inutilidade completa”, disse o promotor Mauricio Ribeiro Lopes, da área de Habitação e Urbanismo.

Além disso, nesse novo inquérito, os promotores pretendem acompanhar o desdobramento da operação, que pode ser levada para outras regiões da cidade.

Para isso, o Ministério Público solicitou que o Comando da Polícia Militar do Estado de São Paulo encaminhe, no prazo de dez dias, a relação de nomes de todos os oficiais policiais que participaram da operação na Cracolândia, no período entre 20 de dezembro de 2011 e 10 de janeiro de 2012, além de informar o total que foi gasto com a ação.

O MP também pediu as que as secretarias municipais de Saúde e de Assistência e Desenvolvimento Social informem, no prazo de 20 dias, como são compostas as equipes de atendimento à população usuária de crack em São Paulo e o total de atendimentos. “A ideia é ter um diagnóstico muito real do que a prefeitura e o Estado têm [de recursos, projetos e equipamentos] para que a gente peça, em juízo, algumas outras coisas”, disse Arthur Pinto Filho, promotor da área de Direitos Humanos.

Também ontem (31), a Justiça de São Paulo acatou integralmente um pedido em caráter liminar, do Ministério Público, para que a PM seja proibida de empregar ações “vexatórias, degradantes ou desrespeitosas” contra os usuários de drogas.

Na ação, que corre sob segredo de Justiça, o MP pediu ainda que o governo paulista pague uma indenização de, no mínimo, R$ 40 milhões por danos morais individuais e coletivas pelo o que considera violações aos direitos humanos. Essa questão, no entanto, ainda deverá ser julgada pela Justiça. “Estamos extremamente satisfeitos com o teor da decisão. Não temos nenhuma dúvida no sentido de que ela representa um marco no mundo jurídico e na luta pelos direitos humanos”, disse a promotora Luciana Bergamo, da área de Infância e Juventude.

De acordo com o promotor Mauricio Lopes, com a decisão liminar, a Polícia Militar não poderá abordar os usuários e dependentes químicos em situações que infrinjam a Constituição, tais como a que ele chamou de “procissão” de usuários pelas ruas do centro. “Se a PM encontrar alguém fornecendo, gratuitamente ou não, droga a outro alguém, deve prendê-lo em flagrante. Se encontrar alguém fazendo uso de substância entorpecente deve levar essa pessoa à delegacia de polícia, onde será lavrado um termo circunstanciado e onde essa pessoa será encaminhada para um tratamento necessário. O que a PM pode fazer em flagrante delito poderá continuar fazendo. O que ela não pode, não deve e que, se fizer, incorrerá em multa prevista, é, à margem da lei, conduzir de um lado para outro pessoas que não estão em situação de flagrante delito ou que não estão fazendo uso de entorpecente naquele instante e fazer essas pessoas ‘zanzarem’ como se fossem zumbis pela cidade”.

Entretanto, o comandante da Polícia Militar, coronel Roberval Ferreira França, disse que a ação policial na região deverá continuar sendo feita da mesma forma. “O tráfico e o porte de entorpecentes continuam sendo categorizados como crime”, argumentou. “A PM vai trabalhar como sempre trabalhou: dentro da lei, com profissionalismo, seriedade e com respeito aos direitos das pessoas e coibindo todas as circunstâncias de abuso que forem verificadas ou trazidas ao nosso conhecimento.”

Com informações da Agência Brasil

Argentina é 1º país a registrar filho de homossexuais

A Argentina tornou-se o primeiro país no mundo a permitir que um casal homossexual registasse um bebê como seu filho. A legalização do casamento gay em 2009 foi um fato inédito na América Latina. Agora, o governo de Buenos Aires estuda a possibilidade de permitir o casamento entre turistas estrangeiros do mesmo sexo que visitem o país.


 homossexuais registram bebê
 Alejandro Grinblat e Carlos Dermgerd, casal homossexual com o filho Tobias / Foto: AFP
Juntos há 12 anos, Alejandro Grinblat, 35 anos, e Carlos Dermgerd, 41 anos, registaram, na terça-feira, em Buenos Aires, Tobias Grinblat Dermgerd, de cerca de um mês, como filho de ambos. O casal tem, agora, totais direitos paternais sobre a criança. O caso é inédito porque nunca um país tinha reconhecido tais direitos a um casal homossexual.

A criança nasceu de uma barriga de aluguel na Índia e o casal acompanhou a gravidez à distância. Quando chegaram ao país para acompanhar o nascimento do bebê, também tiveram o apoio do governo de Buenos Aires que os ajudou a tratar de toda a documentação necessária na Índia.

"Vivemos este nove meses aqui [na Argentina]. A clínica nos ia informando semanalmente como iam os exames, mas fomos à Índia para o momento do nascimento", disse Glinblat, em declarações publicadas no site argentino Infobae. 

Para Alejandro Grinblat, este foi o grande marco da luta pela igualdade que os homossexuais têm travado na Argentina. "Este é um caminho que começou há anos e um marco foi o casamento igualitário [em 2009]" disse, à saída do cartório, exibindo o documento que comprova o registo do bebé.

"A nossa única luta era para formar a nossa família", garante Alejandro Grinblat. Em outros países, como é o caso dos EUA, há estados que reconhecem este direito a casais gays mas a um nível nacional a norma não existe. Um exemplo é o caso do cantor inglês Elton John que teve de viajar para o estado norte-americano da Califórnia para poder, com o seu companheiro, recorrer aos serviços de uma barriga de aluguel e registar uma criança como filho de ambos.

Com Jornal de Notícias

Morre Gore Vidal, célebre escritor e crítico do imperialismo O norte-americano Gore Vidal, escritor, dramaturgo, político e comentarista, morreu nesta terça-feira (31) em sua casa em Los Angeles, aos 86 anos de idade. Suas novelas, ensaios, obras de teatro e opiniões estiveram sempre marcados por sua engenhosidade e sabedoria não convencional, além de um profundo humanismo e corrosiva crítica ao imperialismo e ao que chamava de "hipocrisia do poder". Gore Vidal De acordo com o sobrinho de Vidal, Burr Steers, ele já estava doente havia algum tempo e sofreu complicações decorrentes de uma pneumonia. Considerado um dos escritores americanos mais ilustres do século passado, ele produziu 25 livros, incluindo os best-sellers "Lincoln", "Juliano, Apóstata" e "Myra Breckenridge", além de peças e roteiros para cinema. Ao lado de Truman Capote e Norman Mailer, fez parte de uma geração de escritores que eram também celebridades. Seu círculo de amigos incluiu Tennessee Williams, Orson Welles e Frank Sinatra. Vidal aparecia constantemente em colunas sociais e em talk shows na televisão, onde seus comentários ácidos e espirituosos eram apreciados. Como roteirista de cinema, escreveu "De Repente, No Último Verão" (1959), "Paris Está em Chamas?" (1966) e o polêmico "Calígula" (1979), tendo muito sucesso também como autor de peças de teatro. Candidato eterno ao Nobel da Literatura, Vidal era primo de Al Gore e irmão de criação Jacqueline Kennedy. Sempre foi um ferrenho crítico do intervencionismo norte-americano, sendo uma das principais vozes contra o imperialismo de seu país. A administração de George W. Bush era um de seus alvos prediletos. Deu início à carreira literária aos 19 anos e continuou escrevendo por mais de 60 anos. Vidal não fugia de temas polêmicos, como religião, política e sexualidade. No livro "A Cidade e o Pilar", publicado em 1946, tocou no tema do homossexualismo. Foi uma das primeiras obras a apresentar personagens abertamente gays. Em 1950, conheceu Howard Austen, que foi seu parceiro e com quem morou boa parte da sua vida, na Itália. Em 2005, depois da morte de Austen, decidiu se mudar para Los Angeles. A produção literária do autor girou em torno do romance histórico, da sátira sobre o estilo de vida norte-americano e da ficção científica. Também aventurou-se no campo da política. Nos anos 1960, teve um papel muito ativo dentro das fileiras mais liberais do Partido Democrata e concorreu ao Congresso pelo Estado de Nova York, mas não se elegeu. Entre 1970 e 1972, presidiu o People's Party, e em 1982, mais uma vez pelos democratas, se candidatou a senador pela Califórnia – ficou perto de conquistar a vaga, com mais de 500 mil votos. Entrevista O Vermelho reproduz abaixo entrevista de Gore Vida concedida ao Juventud Rebelde, durante sua passagem por Cuba, em 2007. Gore Vidal: Sou patriota, mas tenho inveja de Cuba "Os Estados Unidos de Bush viraram uma república bananeira" Por Rosa Miriam Elizalde. Juventud Rebelde: Você culpa a Harry Truman por converter os Estados Unidos no país totalitário que é hoje, opinião que, aparentemente, não é compartilhada por muitos americanos. George W. Bush acaba de dizer, por exemplo, que o homem que lançou as bombas sobre Hiroshima e Nagasaki foi um bom presidente. Gore Vidal: Recorde algo: a maioria dos americanos não tem informação sobre história, geografia, religião e o que ocorre no mundo. Roosevelt fez todos os acertos para que pudéssemos arrancar as colônias da França, Holanda e Portugal, depois da Segunda Guerra Mundial. Os americanos ainda não se inteiraram disso. O que sabem de Truman é que era um homem pequenino e bonachão, que tocava piano. Atrás dele estava um príncipe Maetternich, o secretário de Estado Dean Acheson, advogado internacional, que sabia de tudo. Foi ele quem desenhou o Estado militarizado que surgiu em 1949, com a CIA incluída. Tudo girou em torno de um documento: o Memorando número 68, de 1950, do Conselho de Segurança Nacional, que se manteve secreto até 1975, e resolvia estar perenemente em guerra contra alguém. Lutaríamos contra o comunismo, embora este não nos ameaçasse. Estabelecia, de fato, uma guerra santa, como a que agora temos contra o terrorismo e o Islã, igualmente estúpida e irrelevante. Truman era tão mau que o converteram em ídolo. Todos os ignorantes admiram Harry Truman sem saber a razão. Ele terminou com a república e nos colocou nesta onda de conquista. Truman gritava para o povo que a União Soviética estava avançando. Que estava a ponto de tomar a Grécia, e que imediatamente depois iria à Itália, à França, e logo cruzaria o Atlântico. Escutamos os ecos de Truman neste pequeno homenzinho de agora, o senhor Bush, que diz (imitando-o): ''Well, we can't fight them over there... we're gonna have to fight 'em over here... we're gonna have to fight'' (Temos de lutar contra eles lá, ou pelo contrário teremos que combatê-los aqui...). E tais inimigos não têm como chegar aos Estados Unidos para começar uma guerra. Nenhum americano, porém, pode pôr em dúvida semelhante delírio sem que lhe coloquem a etiqueta de antipatriota ou de imbecil. Juventud Rebelde: O atentado terrorista ocorrido em Oklahoma, em 1995, é explicado segundo leis da física: não há ação sem reação. São palavras suas. Referia-se ao ódio que os Estados Unidos semearam no mundo e em seu próprio país. Era uma profecia? Gore Vidal: Até uma criança de cinco anos poderia se dar conta de que a solução para o problema dos atentados terroristas é simplesmente policial, porque somos atacados por uma máfia. Você não pode ter uma guerra sem um país adversário. Trate de explicar isto aos americanos; nem sequer sabem o que é um país. Conseguiram que 80% deles ainda não se informaram de que Saddam Hussein não era precisamente o melhor amigo de Osama Bin Laden. Acreditam que funcionavam como uma mesma pessoa e que ambos nos atacaram no 11 de setembro. Tudo é uma grande bobagem. Não havia conexão alguma entre Saddam e Bin Laden, mas Bush queria completar o trabalho de seu pai e mostrar que ele era o mais audaz dos dois. Queria ser recordado como o ''Bush de Bagdá'', algo assim como um Lawrence da Arábia. Juventud Rebelde: Uma pesquisa da CBS informava que 75% dos americanos desaprovavam a gestão do governo no Iraque, enquanto baixava a níveis históricos o índice de aceitação do presidente. Bush será o mandatário mais odiado na história dos Estados Unidos? Gore Vidal: Se o povo americano tivesse uma verdadeira imprensa livre e alguns meios de comunicação alertas, este homem jamais haveria sido eleito. É um ser incompetente. Já tivemos muitos presidentes bobos, mas Bush nem sequer sabe ler bem. Ao menos nisso é representativo. Escute-o falar por 10 minutos e é claro que não sabe o que está dizendo. Fica desesperado, tratando de seguir as linhas do teleprompter. Sem alguns de seus conselheiros ao lado, ele não pode responder perguntas. Desde que Woodrow Wilson deixou o Salão Oval em 1921, nenhum presidente escreveu seus discursos. O presidente lê o que outros escrevem. Às vezes está de acordo, outras não. Eisenhower lia seus discursos fazendo toda uma descoberta. Há alguma esperança. Depois de tudo, Al Gore ganhou a eleição em 2000 pelo voto popular com 600 mil votos a mais que Bush. A intervenção da Corte Suprema e o truque na contagem dos votos falsificaram o resultado das eleições. Do dia para a noite, viramos uma república bananeira, sem bananas para vender. Este é nosso maior problema agora. Juventud Rebelde: Recentemente, o presidente Fidel Castro afirmou que o governo de Bush conduziu seu país a um desastre de tal magnitude que, quase com segurança, o próprio povo dos Estados Unidos não lhe permitirá concluir seu mandato presidencial. Você acredita nisso? Gore Vidal: Não me surpreenderia. A administração Bush é tão extremista, e há gente ali com a mente tão vazia, que seria capaz de começar a bombardear a Rússia, o Irã - simplesmente para desviar a atenção da outra guerra e para que o governo não se desmorone antes de tempo. Qualquer um sabe o que gritariam (imita Bush): ''Os verdadeiros patriotas ajudam e apóiam ao comandante- em- chefe em tempo de guerra''. Essa é sua rubrica, embora nada tenha sentido e seja uma grande estupidez. Eles são especialistas em fabricar os pretextos para criar pânico. Dois dias depois do 11 de setembro, alguém no governo disse: ''O problema não é se atacarão de novo, mas sim quando''. Ali foi onde começou toda essa estupidez. Quando recordamos que já se passaram cinco anos e não nos atacaram, respondem: ''É pelas precauções que foram tomadas nos aeroportos!'' E dizem (Gore Vidal finge uma expressão e voz de terror): ''Tampouco gostamos dessas precauções, porque temos que tirar os sapatos no aeroporto''. Juventud Rebelde: O que é necessário para restaurar a república? Gore Vidal: Recuperar a grande advertência de Franklin Delano Roosevelt, nosso melhor presidente, no discurso inaugural de seu mandato, quando o país colapsava, o dinheiro escasseava e os bancos quebravam. Ele disse (imita Roosevelt): ''We have nothing to fear but fear itself'' (Não temos nada a temer, salvo o próprio medo). Essa é a base de nossa república. Diria ao povo americano: ''Não te deixes enganar pelo medo. Há muita gente nos Estados Unidos que ganha dinheiro graças ao temor. Esse é seu trabalho: assustar-te''. Não estou a favor de uma revolução violenta agora, porque só resulta no oposto do que procuravam. A revolução francesa deu ao mundo Napoleão Bonaparte, e Luis 16 não era tão mau como ele. Creio, porém, que vamos ter uma revolução nos Estados Unidos devido ao colapso econômico. Nestes dias, uma das grandes manchetes dizia que o exército rogava ao governo que lhe desse dinheiro. Não tem dinheiro para seguir fazendo o ridículo em Bagdá! Vão arrecadar o dinheiro de qualquer jeito, mas não à custa dos ricos. Os ricos não têm a obrigação de pagar impostos. As corporações tampouco. Antigamente, 50% da receita dos Estados Unidos vinham dos impostos e dos lucros corporativos. Agora pagam menos de 8%. Liberaram todos os seus amigos ricos de pagar impostos para que façam doações ao Partido Republicano, com o compromisso de que este seguirá dizendo mentiras ao país e assegure que os patriotas são traidores. Para eles, foi um magnífico truque do ponto de vista econômico, mas um plano maligno para nós, os americanos. E isso nos desagrada. Perdemos o Bill of Rights (Carta dos Direitos fundamentais) e a Carta Magna, na qual se sustentaram todas as nossas liberdades por mais de 200 anos. Não, não foi nem será uma época divertida. Juventud Rebelde: Está a par do caso dos cinco cubanos presos nos Estados Unidos por informar ao governo da ilha sobre planos terroristas no sul da Flórida? Gore Vidal: Conheço o caso por intermédio dos advogados, mas não pela mídia. Parece ser outra das coisas idiotas que nosso governo está fazendo. Entendi que os presidentes Clinton e Castro trocaram mensagens para deter os terroristas de Miami, que haviam colocado bombas nos hotéis e em agências que enviavam turistas à ilha. Os dois mandatários estavam de acordo que esta situação devia ser detida. Clinton pediu ao FBI que viesse a Cuba, e Castro concordou com isso. Em vez de prender os terroristas, o FBI prendeu os cubanos. Encanta-nos encarcerar as pessoas, tanto como nos agrada a pena de morte. É a estrela mais brilhante de nosso diadema. Temos um país louco pela tortura, pelo assassinato, pelas execuções, pelas sentenças à prisão perpétua. É uma mentalidade perversa, que está no âmago do puritanismo protestante. Todos têm que sofrer se pecaram, mas se alguém é rico, Deus te ama. Essa é a prova. Se alguém é pobre, não agrada a Deus. Essa é a prova. Semelhante forma de pensar não é saudável para ninguém, e no estado da Flórida existem muitas pessoas que pensam assim, além das que chegaram com Batista. A junta, que os aprisionou e os condenou, o fez conhecendo muito bem as conseqüências. Juventud Rebelde: Oliver Stone foi punido pelo Departamento do Tesouro dos Estados Unidos por violar o bloqueio contra Cuba. Seu delito é haver viajado à ilha para realizar seus dois documentários sobre Fidel. É constitucional esse tipo de medidas? Gore Vidal: Claro que não. É uma violação. Mas no 11 de setembro houve um golpe de estado nos Estados Unidos, o primeiro em nossa história. Um golpe no qual um grupo de gente desonesta, de um comitê petroleiro, usurpou o poder do Estado e derrubou o Congresso. É um fato único, e os detalhes conformarão, algum dia, uma grande história. Isso é algo que o povo ainda não acabou de compreender, porque os americanos têm uma mentalidade muito simples: o que não conhecem ou não viram previamente, não existe. Bom, vivem agora in situ, mas o descobrirão, algum dia, como arqueólogos, e não será nada agradável. As sanções contra os americanos que querem uma relação normal com Cuba são filhas dessas circunstâncias. Oliver Stone ''e qualquer outro cidadão americano'', porém, têm todo o direito de fazer qualquer filme que queiram em qualquer circunstância, enquanto não tenham violado nenhuma lei. É seu direito constitucional. Ele não violou a lei. O que ocorre é que a junta não gosta do que ele faz: Oh, meu deus! Juventud Rebelde: Teme que possa haver alguma represália contra você ? Gore Vidal: Somente devo estar preparado para que não gostem de nada que você faça , diga ou escreva sobre este governo. Juventud Rebelde: Você está há vários dias em Havana. Cuba é a ilha satânica que a imprensa e os políticos mostram aos americanos? Gore Vidal: Estás louca? Não! Dizem sempre que os cubanos detestam estar aqui. Que todos morrem de fome. Inventam essas mentiras de que os hospitais são terríveis e que ninguém cuida deles. Que os cubanos que adoecem vão à clínica Mayo, nos Estados Unidos. Não há mentira que nosso governo não nos conte quando fala de Cuba. Nos Estados Unidos, a mentira é o idioma livre da nação. Sabes por que vou à televisão? Porque sinto que haverá alguém que me veja e me escute, e a quem eu possa falar sobre o que vi, sem intermediários tendenciosos. Posso falar-lhes, por exemplo, dos maravilhosos planos médicos de Cuba. Visitei uma escola de medicina, que se dedica a preparar médicos de muitos países para que ofereçam serviços comunitários aos pobres, algo que o sistema americano odeia. A medicina nos Estados Unidos é preparada para agarrar todo o dinheiro que possa e fugir para o Tahiti, ou a outro lugar de férias, e esquecer das pessoas que sofrem. Estive conversando com oito ou nove pessoas de Nova York e Massachussets, que estudam medicina em Cuba. Perguntei-lhe se a preparação que recebiam era tão boa como me haviam dito, e me responderam que sim, que é melhor que qualquer outra que pudessem alcançar nos Estados Unidos. Por que não fazemos, nós próprios, o mesmo por nossa gente e pela saúde dos outros povos? Os médicos cubanos estão nos lugares mais remotos, da África até a selva amazônica. Somente se restaurarmos a Constituição poderemos ter um país com aspirações e êxitos como os de Cuba. Não acredite que, como americano, eu não sinta inveja do que vi em Cuba. Sou um grande patriota e tenho inveja. Juventud Rebelde: Voltará? Gore Vidal: Jamais faço previsões.

O norte-americano Gore Vidal, escritor, dramaturgo, político e comentarista, morreu nesta terça-feira (31) em sua casa em Los Angeles, aos 86 anos de idade. Suas novelas, ensaios, obras de teatro e opiniões estiveram sempre marcados por sua engenhosidade e sabedoria não convencional, além de um profundo humanismo e corrosiva crítica ao imperialismo e ao que chamava de "hipocrisia do poder". 


 gore vidal
Gore Vidal
De acordo com o sobrinho de Vidal, Burr Steers, ele já estava doente havia algum tempo e sofreu complicações decorrentes de uma pneumonia. Considerado um dos escritores americanos mais ilustres do século passado, ele produziu 25 livros, incluindo os best-sellers "Lincoln", "Juliano, Apóstata" e "Myra Breckenridge", além de peças e roteiros para cinema.

Ao lado de Truman Capote e Norman Mailer, fez parte de uma geração de escritores que eram também celebridades. Seu círculo de amigos incluiu Tennessee Williams, Orson Welles e Frank Sinatra. Vidal aparecia constantemente em colunas sociais e em talk shows na televisão, onde seus comentários ácidos e espirituosos eram apreciados.

Como roteirista de cinema, escreveu "De Repente, No Último Verão" (1959), "Paris Está em Chamas?" (1966) e o polêmico "Calígula" (1979), tendo muito sucesso também como autor de peças de teatro. Candidato eterno ao Nobel da Literatura, Vidal era primo de Al Gore e irmão de criação Jacqueline Kennedy. Sempre foi um ferrenho crítico do intervencionismo norte-americano, sendo uma das principais vozes contra o imperialismo de seu país. A administração de George W. Bush era um de seus alvos prediletos.

Deu início à carreira literária aos 19 anos e continuou escrevendo por mais de 60 anos. Vidal não fugia de temas polêmicos, como religião, política e sexualidade. No livro "A Cidade e o Pilar", publicado em 1946, tocou no tema do homossexualismo. Foi uma das primeiras obras a apresentar personagens abertamente gays. Em 1950, conheceu Howard Austen, que foi seu parceiro e com quem morou boa parte da sua vida, na Itália. Em 2005, depois da morte de Austen, decidiu se mudar para Los Angeles.

A produção literária do autor girou em torno do romance histórico, da sátira sobre o estilo de vida norte-americano e da ficção científica. Também aventurou-se no campo da política. Nos anos 1960, teve um papel muito ativo dentro das fileiras mais liberais do Partido Democrata e concorreu ao Congresso pelo Estado de Nova York, mas não se elegeu. Entre 1970 e 1972, presidiu o People's Party, e em 1982, mais uma vez pelos democratas, se candidatou a senador pela Califórnia – ficou perto de conquistar a vaga, com mais de 500 mil votos.

Entrevista 


Vermelho reproduz abaixo entrevista de Gore Vida concedida ao Juventud Rebelde, durante sua passagem por Cuba, em 2007.

Gore Vidal: Sou patriota, mas tenho inveja de Cuba
"Os Estados Unidos de Bush viraram uma república bananeira"

Por Rosa Miriam Elizalde. 

Juventud Rebelde: Você culpa a Harry Truman por converter os Estados Unidos no país totalitário que é hoje, opinião que, aparentemente, não é compartilhada por muitos americanos. George W. Bush acaba de dizer, por exemplo, que o homem que lançou as bombas sobre Hiroshima e Nagasaki foi um bom presidente.
Gore Vidal: Recorde algo: a maioria dos americanos não tem informação sobre história, geografia, religião e o que ocorre no mundo. Roosevelt fez todos os acertos para que pudéssemos arrancar as colônias da França, Holanda e Portugal, depois da Segunda Guerra Mundial. Os americanos ainda não se inteiraram disso. O que sabem de Truman é que era um homem pequenino e bonachão, que tocava piano. Atrás dele estava um príncipe Maetternich, o secretário de Estado Dean Acheson, advogado internacional, que sabia de tudo. Foi ele quem desenhou o Estado militarizado que surgiu em 1949, com a CIA incluída.

Tudo girou em torno de um documento: o Memorando número 68, de 1950, do Conselho de Segurança Nacional, que se manteve secreto até 1975, e resolvia estar perenemente em guerra contra alguém. Lutaríamos contra o comunismo, embora este não nos ameaçasse. Estabelecia, de fato, uma guerra santa, como a que agora temos contra o terrorismo e o Islã, igualmente estúpida e irrelevante. Truman era tão mau que o converteram em ídolo. Todos os ignorantes admiram Harry Truman sem saber a razão. Ele terminou com a república e nos colocou nesta onda de conquista.

Truman gritava para o povo que a União Soviética estava avançando. Que estava a ponto de tomar a Grécia, e que imediatamente depois iria à Itália, à França, e logo cruzaria o Atlântico. Escutamos os ecos de Truman neste pequeno homenzinho de agora, o senhor Bush, que diz (imitando-o): ''Well, we can't fight them over there... we're gonna have to fight 'em over here... we're gonna have to fight'' (Temos de lutar contra eles lá, ou pelo contrário teremos que combatê-los aqui...). E tais inimigos não têm como chegar aos Estados Unidos para começar uma guerra. Nenhum americano, porém, pode pôr em dúvida semelhante delírio sem que lhe coloquem a etiqueta de antipatriota ou de imbecil.

Juventud Rebelde: O atentado terrorista ocorrido em Oklahoma, em 1995, é explicado segundo leis da física: não há ação sem reação. São palavras suas. Referia-se ao ódio que os Estados Unidos semearam no mundo e em seu próprio país. Era uma profecia? 
Gore Vidal: Até uma criança de cinco anos poderia se dar conta de que a solução para o problema dos atentados terroristas é simplesmente policial, porque somos atacados por uma máfia. Você não pode ter uma guerra sem um país adversário. Trate de explicar isto aos americanos; nem sequer sabem o que é um país.

Conseguiram que 80% deles ainda não se informaram de que Saddam Hussein não era precisamente o melhor amigo de Osama Bin Laden. Acreditam que funcionavam como uma mesma pessoa e que ambos nos atacaram no 11 de setembro. Tudo é uma grande bobagem. Não havia conexão alguma entre Saddam e Bin Laden, mas Bush queria completar o trabalho de seu pai e mostrar que ele era o mais audaz dos dois. Queria ser recordado como o ''Bush de Bagdá'', algo assim como um Lawrence da Arábia.

Juventud Rebelde: Uma pesquisa da CBS informava que 75% dos americanos desaprovavam a gestão do governo no Iraque, enquanto baixava a níveis históricos o índice de aceitação do presidente. Bush será o mandatário mais odiado na história dos Estados Unidos? 
Gore Vidal: Se o povo americano tivesse uma verdadeira imprensa livre e alguns meios de comunicação alertas, este homem jamais haveria sido eleito. É um ser incompetente. Já tivemos muitos presidentes bobos, mas Bush nem sequer sabe ler bem. Ao menos nisso é representativo. Escute-o falar por 10 minutos e é claro que não sabe o que está dizendo. Fica desesperado, tratando de seguir as linhas do teleprompter.

Sem alguns de seus conselheiros ao lado, ele não pode responder perguntas. Desde que Woodrow Wilson deixou o Salão Oval em 1921, nenhum presidente escreveu seus discursos. O presidente lê o que outros escrevem. Às vezes está de acordo, outras não. Eisenhower lia seus discursos fazendo toda uma descoberta.

Há alguma esperança. Depois de tudo, Al Gore ganhou a eleição em 2000 pelo voto popular com 600 mil votos a mais que Bush. A intervenção da Corte Suprema e o truque na contagem dos votos falsificaram o resultado das eleições. Do dia para a noite, viramos uma república bananeira, sem bananas para vender. Este é nosso maior problema agora.

Juventud Rebelde: Recentemente, o presidente Fidel Castro afirmou que o governo de Bush conduziu seu país a um desastre de tal magnitude que, quase com segurança, o próprio povo dos Estados Unidos não lhe permitirá concluir seu mandato presidencial. Você acredita nisso?
Gore Vidal: Não me surpreenderia. A administração Bush é tão extremista, e há gente ali com a mente tão vazia, que seria capaz de começar a bombardear a Rússia, o Irã - simplesmente para desviar a atenção da outra guerra e para que o governo não se desmorone antes de tempo.

Qualquer um sabe o que gritariam (imita Bush): ''Os verdadeiros patriotas ajudam e apóiam ao comandante- em- chefe em tempo de guerra''. Essa é sua rubrica, embora nada tenha sentido e seja uma grande estupidez. Eles são especialistas em fabricar os pretextos para criar pânico. Dois dias depois do 11 de setembro, alguém no governo disse: ''O problema não é se atacarão de novo, mas sim quando''.

Ali foi onde começou toda essa estupidez. Quando recordamos que já se passaram cinco anos e não nos atacaram, respondem: ''É pelas precauções que foram tomadas nos aeroportos!'' E dizem (Gore Vidal finge uma expressão e voz de terror): ''Tampouco gostamos dessas precauções, porque temos que tirar os sapatos no aeroporto''.

Juventud Rebelde: O que é necessário para restaurar a república? 
Gore Vidal: Recuperar a grande advertência de Franklin Delano Roosevelt, nosso melhor presidente, no discurso inaugural de seu mandato, quando o país colapsava, o dinheiro escasseava e os bancos quebravam. Ele disse (imita Roosevelt): ''We have nothing to fear but fear itself'' (Não temos nada a temer, salvo o próprio medo). Essa é a base de nossa república. Diria ao povo americano: ''Não te deixes enganar pelo medo. Há muita gente nos Estados Unidos que ganha dinheiro graças ao temor. Esse é seu trabalho: assustar-te''.

Não estou a favor de uma revolução violenta agora, porque só resulta no oposto do que procuravam. A revolução francesa deu ao mundo Napoleão Bonaparte, e Luis 16 não era tão mau como ele. Creio, porém, que vamos ter uma revolução nos Estados Unidos devido ao colapso econômico. Nestes dias, uma das grandes manchetes dizia que o exército rogava ao governo que lhe desse dinheiro. Não tem dinheiro para seguir fazendo o ridículo em Bagdá! Vão arrecadar o dinheiro de qualquer jeito, mas não à custa dos ricos.

Os ricos não têm a obrigação de pagar impostos. As corporações tampouco. Antigamente, 50% da receita dos Estados Unidos vinham dos impostos e dos lucros corporativos. Agora pagam menos de 8%. Liberaram todos os seus amigos ricos de pagar impostos para que façam doações ao Partido Republicano, com o compromisso de que este seguirá dizendo mentiras ao país e assegure que os patriotas são traidores.

Para eles, foi um magnífico truque do ponto de vista econômico, mas um plano maligno para nós, os americanos. E isso nos desagrada. Perdemos o Bill of Rights (Carta dos Direitos fundamentais) e a Carta Magna, na qual se sustentaram todas as nossas liberdades por mais de 200 anos. Não, não foi nem será uma época divertida.

Juventud Rebelde: Está a par do caso dos cinco cubanos presos nos Estados Unidos por informar ao governo da ilha sobre planos terroristas no sul da Flórida? 
Gore Vidal: Conheço o caso por intermédio dos advogados, mas não pela mídia. Parece ser outra das coisas idiotas que nosso governo está fazendo. Entendi que os presidentes Clinton e Castro trocaram mensagens para deter os terroristas de Miami, que haviam colocado bombas nos hotéis e em agências que enviavam turistas à ilha. Os dois mandatários estavam de acordo que esta situação devia ser detida. Clinton pediu ao FBI que viesse a Cuba, e Castro concordou com isso.

Em vez de prender os terroristas, o FBI prendeu os cubanos. Encanta-nos encarcerar as pessoas, tanto como nos agrada a pena de morte. É a estrela mais brilhante de nosso diadema. Temos um país louco pela tortura, pelo assassinato, pelas execuções, pelas sentenças à prisão perpétua. É uma mentalidade perversa, que está no âmago do puritanismo protestante. Todos têm que sofrer se pecaram, mas se alguém é rico, Deus te ama. Essa é a prova. Se alguém é pobre, não agrada a Deus. Essa é a prova.

Semelhante forma de pensar não é saudável para ninguém, e no estado da Flórida existem muitas pessoas que pensam assim, além das que chegaram com Batista. A junta, que os aprisionou e os condenou, o fez conhecendo muito bem as conseqüências.

Juventud Rebelde: Oliver Stone foi punido pelo Departamento do Tesouro dos Estados Unidos por violar o bloqueio contra Cuba. Seu delito é haver viajado à ilha para realizar seus dois documentários sobre Fidel. É constitucional esse tipo de medidas? 
Gore Vidal: Claro que não. É uma violação. Mas no 11 de setembro houve um golpe de estado nos Estados Unidos, o primeiro em nossa história. Um golpe no qual um grupo de gente desonesta, de um comitê petroleiro, usurpou o poder do Estado e derrubou o Congresso. É um fato único, e os detalhes conformarão, algum dia, uma grande história. Isso é algo que o povo ainda não acabou de compreender, porque os americanos têm uma mentalidade muito simples: o que não conhecem ou não viram previamente, não existe.

Bom, vivem agora in situ, mas o descobrirão, algum dia, como arqueólogos, e não será nada agradável. As sanções contra os americanos que querem uma relação normal com Cuba são filhas dessas circunstâncias. Oliver Stone ''e qualquer outro cidadão americano'', porém, têm todo o direito de fazer qualquer filme que queiram em qualquer circunstância, enquanto não tenham violado nenhuma lei. É seu direito constitucional. Ele não violou a lei. O que ocorre é que a junta não gosta do que ele faz: Oh, meu deus!

Juventud Rebelde: Teme que possa haver alguma represália contra você ? 
Gore Vidal: Somente devo estar preparado para que não gostem de nada que você faça , diga ou escreva sobre este governo.

Juventud Rebelde: Você está há vários dias em Havana. Cuba é a ilha satânica que a imprensa e os políticos mostram aos americanos? 
Gore Vidal: Estás louca? Não! Dizem sempre que os cubanos detestam estar aqui. Que todos morrem de fome. Inventam essas mentiras de que os hospitais são terríveis e que ninguém cuida deles. Que os cubanos que adoecem vão à clínica Mayo, nos Estados Unidos. Não há mentira que nosso governo não nos conte quando fala de Cuba.

Nos Estados Unidos, a mentira é o idioma livre da nação. Sabes por que vou à televisão? Porque sinto que haverá alguém que me veja e me escute, e a quem eu possa falar sobre o que vi, sem intermediários tendenciosos. Posso falar-lhes, por exemplo, dos maravilhosos planos médicos de Cuba. Visitei uma escola de medicina, que se dedica a preparar médicos de muitos países para que ofereçam serviços comunitários aos pobres, algo que o sistema americano odeia. A medicina nos Estados Unidos é preparada para agarrar todo o dinheiro que possa e fugir para o Tahiti, ou a outro lugar de férias, e esquecer das pessoas que sofrem.

Estive conversando com oito ou nove pessoas de Nova York e Massachussets, que estudam medicina em Cuba. Perguntei-lhe se a preparação que recebiam era tão boa como me haviam dito, e me responderam que sim, que é melhor que qualquer outra que pudessem alcançar nos Estados Unidos. Por que não fazemos, nós próprios, o mesmo por nossa gente e pela saúde dos outros povos? Os médicos cubanos estão nos lugares mais remotos, da África até a selva amazônica. Somente se restaurarmos a Constituição poderemos ter um país com aspirações e êxitos como os de Cuba. Não acredite que, como americano, eu não sinta inveja do que vi em Cuba. Sou um grande patriota e tenho inveja.

Juventud Rebelde: Voltará? 
Gore Vidal: Jamais faço previsões.